sábado, 29 de dezembro de 2012

É segredo


Meu amor, meu amante
Conto-te um segredo que nunca ninguém ouviu:
Já fui cisne, já fui musa, já fui de gelo, já fui nada
E como Fénix renasci.
Hoje sou feita de sonhos
E como donzela, me deleito a teus olhos
Oferecendo-te rosas brancas. 

Nessa necessidade do toque, que me inflama.
E do teu corpo saudosa,
no espaço e no tempo
Me lanço ansiosa
no noturno movimento. 

Ao bater das horas, no correr da noite,
Sinto o gemer da agonia de não te ver chegar.
Chegas no final do tempo.
Sinto na boca o sangue a latejar
Nessa necessidade infernal de te querer beijar.
Esses beijos profundos
como os espinhos que se cravam na pele,
dessas rosas que te trago,
Mas sedosos como o mel.
São eles que me colocam entre a espada e a parede
E a minha pele pálida e frágil
Se rasga perante ti
Quando as rosas me arrancas.
E o meu corpo, em trevas infernais,
traz esses beijos de volúpia
e cravo, felinamente, no teu peito como garras,
os meus dedos,
para que não fiques longe de mim. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Se morresse

Se morresse
ninguém daria por isso.
Seria mais um corpo frio e inerte
Mais uns grãos de pó
Na escuridão
Na sombra dos dias que não conheço
Se morresse

Seria uma gota de chuva
Que incomoda o simples cair
Mas que faz as flores desabrochar.

Se morresse
Seria uma brisa leve
que veio e passou.
Seria o cair da neve
A onda que vai e volta.
Se morresse
Seria a folha de Outono
Leve e frágil.
Seria o silêncio dos teus passos
O som do cair da lágrima.
Se morresse
Seria um simples raio de luz ténue
Na dança de sombra e luz
Num crepúsculo de Inverno.
 

Seria nada e tudo.
Nada que se possa tocar
Tudo o que se possa sentir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Autópsia poética

Escrevo o que não sinto
Revivo o que senti.
Recorro ao método científico
Para não toldar o pensamento
Pego no bisturi da razão
Para conferir discernimento.
Nessa maca esterilizada,
branca folha de papel
Estendo o corpo morto de sentimentos
Que abro lentamente
Com pequenos cortes perfeitos.
Espreito por essa janela
para efetuar a palpação
Nessa anatomia de um poema
que não tem coração.
Morreu.
E as feridas foram abertas
Com o prazer que já não é seu.
Já não ardem com o mar salgado.
São apenas os restos mortais
de quem sentiu noutra realidade
E é nesse momento da autópsia
Que o poeta sente a liberdade.
Liberdade retratada a preto e branco
Na emergência de uma alucinação (quase) fingida
Ressuscita na "maca" esse corpo
Na arte morta que é a escrita
No olhar de quem lê e de quem sente:
já não é o poeta, és tu.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Na eternidade


Cedo passa a hora
Quando nas ondas que vão e vêm
Sinto o amor nos braços e nas mãos
Pois o Mar sou eu.
Mar prisioneiro que nas profundezas
Fantasmas lá prendeu
E um dia, quem sabe, também morre(u)ram.
Ouve-se o canto sombrio
O canto dos temporais, nesse silêncio mortal.
Rompeu-se aí a saudade
Na dança de sombra e luz
Que encanta e seduz.
enquanto se aguarda o rasgar da escuridão
Na eternidade que é um relógio sem ponteiros.

sábado, 17 de novembro de 2012

Anoiteceu


Fiquei suspensa
Presa com essas algemas libertadoras
dessa dor deliciosa.
Despida à luz do crepúsculo
Sou tua
e entrego-me contra essa parede rubra.
Tiro o teu sossego.
Cada linha do meu corpo
Guardaste na tua bola de cristal
Sufocaste o meu sentir
Nesse beijo profundo e intenso,
força que me prendeu a ti.
Morri em ti, meu pássaro de fogo
Que num sopro fez de mim um ponto de luz
Que se desfez numa vertigem noturna
nas margens do leito.
Um momento com sabor e a preto e branco.
Anoiteceu.

sábado, 10 de novembro de 2012

O anjo das asas caídas


No meu castelo de ruínas
O meu corpo vagueava
como um fantasma vagabundo
com roupas de sombra para cobrir o que não se via.
No fundo das entranhas
Revolvia-me uma vontade estranha:
Partir a alma em 1000 pedaços
e assim morrer
Para não sentir e poder viver.
Revolviam-me as sombras numa pura ilusão
Que me acordavam das insónias
E no sonho que já não se ouvia
Palpitava o coração que não sentia.
Via um vulto que me guiava de repente
e estendia a mão lentamente
e eu dava a minha Vida,
Inconsciente.
Beijava-me o corpo docemente
e no seu canto de embalar dizia:
“Não és nada. Nunca serás nada”.
E eu olhava para o fundo e dizia
“Ninguém me vê”.
Perdi-me nos versos que alguém lê.
Era sombra da sombra
que vagueava na rua.
já não amanhecia
Pois a luz já não nascia.
“Matei-a”, confesso.
As escadas ocas serviram para subir
até à torre mais alta
Para ouvir os sinos dobrar
Quando o sono vinha para mim:
Mero silêncio.
Agora não digas nada:
Sou uma sombra leve,
Anjo das asas caídas.

domingo, 4 de novembro de 2012

Nas asas de um anjo


As sombras tornaram-se defuntas
Na hora em que as nossas bocas juntas ficaram
E na hora em que o teu olhar me despiu
E me fez arder ansiosa no desejo.
Fizeste acordar em mim o Amor perfeito
Que no meu peito
trago a pulsar.
Nos teus astros de fogo,
olhos ardentes,
provocaste em mim esta febre
que me deixa completamente
despida de barreiras.
Faz  de mim uma submissa tua
que vagueia pela estrada tua,
as linhas do teu corpo.
Ouço o teu respirar junto ao meu ouvido
Quando fechas o meu mundo nos teus braços
e prendes nos teus dedos delicados
a minha alma.
É essa fantasia que vejo:
Num apelo mudo
Ouço o teu gemido
Que se torna agudo
E nos embriaga nesse prazer.
No momento em que cravo as minhas mãos
Nas linhas do teu rosto,
Sinto o sangue a fervilhar
E me faz elevar ao cimo do nosso desejo
E eu voo nas asas de um Anjo,
que és tu.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Sombras

No quarto onde morava
As paredes eram frias
E o Sol morria
E vestiu de luto os seus dias.
Iludiu-se com o descanso que julgava ter
Mas cresceram os murmúrios dolorosos
E as folhas iam caindo no jardim.
A Sombra triste e forte a envolveu
E Maria leu com ela
O livro da Dor, que a Sombra lhe ofereceu.
O Amor passou pela sua janela
Chamou Maria,mas recusou-se a vê-lo
Entregou-se à Sombra
Pois achava que não podia merecê-lo.
Toldaram-lhe as lágrimas amargas
E sentiu enraivecer as suas feridas
E as lágrimas escorreram
E ninguém as viu
Cair dentro de si.
A noite repousou sobre ela
Enquanto a Dor era a sua tortura
E a fazia soluçar
Pela noite escura.
No silêncio,o seu Ser fez-se cinzas,
Tornou a sua alma pó.
Mas num simples escrever
Delineou o que sentia
sem nunca o dizer.
Tirou os versos do pensamento
E fez deles o sonho e o encanto do momento.
Sabe que nas Sombras existe medo,
Mas o medo tornou-se vontade de Ser,
de condensar o mundo no grito
Do verso inacabado
Que a faz dizer à Sombra em segredo:
"Podes existir em mim,mas não irás tornar-me igual a ti".

sábado, 20 de outubro de 2012

Ao cair da noite


Nessa noite de um encanto soluçado
quero que digas, bem junto ao meu ouvido
Qual é o teu pecado
Grita-me isso num gemido
tão desfeito
Como as brasas que espalharás pelos lábios meus.
Nas minhas mãos deixarás o perfume quente
que aquece a minha pele
Cálida e inocente.
Tira dos meus olhos a cor
Para pincelares com as tuas mãos
O Amor que te foge por entre os dedos,
Que se entrelaçam nos meus medos,
Sob a neve que o inverno traz
E com o Sol da tua boca
Nessa primavera tua, se desfaz.
E nesse momento,

Serei tua num dia de chuva
com o sol dentro de nós.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Silêncio noturno


À noite, à hora da ansiedade
 
Lugar meu, hora minha,
 
Anseio pelos teus beijos e pelo teu toque
Ouço a escuridão que é a música da noite
Desejo que venhas,
Que deixes que ela te leve os sentidos
e te evolva com as sensações.
Deixa florescer o fogo do teu desejo
Nas sombras que cobrem o corpo teu
E o meu com um véu.
As sombras em que a noite se tornou.
Vem….
Torna-te prisioneiro dessa “noite”
e deleita-te com o corpo que queres para ti
que te dará a outra face:
A face do desejo.
A face da fantasia.


O silêncio abre as mãos
E a tua boca fica ao pé da minha
e desabrocha lentamente
Nas noites luxuriantes,
nas noites quentes
Em beijos sensuais e ardentes
Em que fazes do teu querer o meu
E ardemos nessa chama silenciosamente explosiva.

sábado, 22 de setembro de 2012

Num sonho meu


Estava perdida na corrida contra o tempo.

Permanecendo o momento

Longe do teu Amor que não recordava.

Mas num dia qualquer o nevoeiro dissipou

Quando num sussurro silencioso

Te pedi que me levasses os medos

E libertasses o que sinto em mim.

Nesse frágil momento

Fechaste os braços para me ter

E eu deixei-me cair no relógio do esquecimento

Para ficar contigo uma vez mais.

Recordo o sentir de ti

Quando te deixei um pedaço de mim

Nas tuas mãos meias cheias de Amor,

Meias cheias de desejo e vontade

Simplesmente repletas da minha ausência.

Foi um beijo (in)acabado

Que tocou nos teus lábios brevemente por longos momentos

Num gesto naturalmente sentido:

Quente, doce e intenso como o Amor que nos une.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sem ti

Sem ti o amor é vivido pela metade
Como se fosse a melodia
que acompanha as letras desenhadas no papel
Apenas são traços e não são poesia.
Ainda sei de cor o teu corpo
Quando me deitei sobre os teus sonhos
Ficando apenas pela metade
Vestindo apenas o véu da tua fantasia e do teu ser
Até a luz amanhecer.
Ficou apenas o perfume
desses momentos que rasgamos em 1000 pedaços
Com beijos e abraços  que trocamos.
Foi para o teu ser que eu corri
Para não nascer mas para morrer
Em ti.
Apenas o beijo matou essa distância
E não te contei mais segredos
Nesse amanhecer.
Pois escondi-me nos teus dedos
Só para te sentir
E à luz do teu amor
Floresceu uma flor de fogo
Que colheste no meu colo.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Meu amor

Meu amor, dei-te as minhas mágoas
Estendi as minhas asas sobre as tuas águas
Fechei o meu olhar nas mãos do teu silêncio.
Simplesmente, meu amor, te esqueci
Para em horas nuas e rubras me lembrar de ti
Loucamente.
O silêncio pôs-se a escutar
A linda melodia que me pediste para tocar
Os versos que são teus mas que os rasguei
Pois já os sei de cor
Pois os canto sempre que te escrevo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Pela porta mal fechada

Pela porta mal fechada
Vejo a tua sombra fugidia
Mas mantenho me na sala vazia.
Fecho os olhos para vislumbrar o teu rosto
Procuro delinear com os meus sonhos
Aquilo que espelhas nos teus olhos.
Quando a porta se abriu
E a luz deixaste entrar
Começou a chover
Deste-me a mão e caminhamos
Para esse mundo paralelo
Em que existimos os dois.
Corremos pela chuva e deixamos que nos reconfortasse
Demos um beijo frio
Mas que na nossa alma queimou
Um beijo que fez parar o tempo
Diminuiu a distância entre nós
Quando raiou a saudade
Nos momentos em que existimos um para o outro.