domingo, 26 de janeiro de 2014

Partes de Nós

 
 

 Quando é o Silêncio que Fala,
não encontro ausência.
São Retalhos de mim
que coloco à vista.
É assim que abro a Janela da minha Alma.
O meu coração é pequeno.
É um Coração de tinta.
Está nas pequenas palavras.
São seres pulsantes.
É assim que sobrevivem os poetas
que têm as Palavras como amantes.

Amo assim.
Amo durante a noite.
Apaixonadamente despida de artifícios.
Apaixonadamente Nós.
É assim que gritamos a uma só voz.

As palavras partem
Nas ondas claras do sentir e do Amor.
Está em todo o lado.
Não está em lugar nenhum.

Nas Alvas Manhãs submersas de gelo,
não há lágrimas.
Apenas o orvalho nos cabelos.
Preciso de respirar o teu corpo.
Não sei se vivo.
Não sei se morto.
É nesse rio acesso que sobrevivo.

Versos de Mel e Fel.
Não faz mal.
Tudo é necessário, afinal.
Só não quero que me mintas.
Encostarei o ouvido ao teu coração
para que sinta
o que dizes.

 São esses Suspiros da Alma
Que escrevo antes de me deitar a dormir.
Nesse momento, envolvo-me no lençol de sonho.
É preciso sorrir,
Por isso, agora creio que a Solidão é impossível
Porque Estou aqui
Com Alma e Olhar.
Amo-te, simplesmente.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Loucura sem Alma


Foto: Anita Anti 
 

Estou no manicómio.

As Palavras são pedras duras

unidas pela ternura

e pintadas com a cor da Loucura.

É o Sol que brilha.

Está tudo dourado.

Julgo estar no lugar errado.

 

Não sou louca.

Falo com seres imaginários.

Faço parte de um mundo encantado.

Apenas isso.

No quarto estou isolada.

Olho as paredes demasiado puras.

 

Anoiteceu.

A noite não é para ter sonhos.

Aviva a loucura

do fundo dos teus olhos

É hora de enfrentar os medos.

Usa a ponta dos dedos.

 

Escavo a minha sepultura

com a caneta de ternura,

procurando um sonho.

Um resto de mim.

Cheira a álcool.

Caio na vertigem de Palavras.

Ando em cima de limites não definidos.

 

Fico a baloiçar agarrada à corda de palavras repetidas.

São o eco da inconsciência.

Volta!

Há um beijo que se aproxima,

quando no fim do verso

há a rima.

Não posso voltar!

Morro quebrada pela cintura,

quando tento ordenar as palavras soltas

e domestico a criatura.

 

Emerge o Monstro Sagrado,

Um poema inacabado.

Fala de palavras não pronunciadas,

palavras caladas,

emergentes de mãos vazias.

Ecoarão na madrugada.

 

O poema existe para além do fim.

Não existimos.

Nem Alma possuímos.

Ficamos apenas com o beijo

dos lábios poéticos:

Papel frio de Liberdade.  

domingo, 19 de janeiro de 2014

Revelo-te

Foto: Graça Loureiro


Amo-te.

Tenho palavras para te dizer.

Procura-as nos espaços.

É lá que se estreitam os laços.

Nunca (te) vi Amor.

Sempre tive os olhos abertos.

Os braços sempre estiveram desertos.

Sempre estive longe.

Tu estiveste um pouco mais.

Deverias estar mais perto.

É uma loucura de quem não quer estar deserto.

 

Somos corpos desencontrados.

Irrompem os gritos calados.

Deslumbro-me com o teu Silêncio.

Danço com as Sombras.

Aguardo-te na Solidão perfeita das Palavras.

 

Rompe a luz

da janela fechada.

Há tempo!

É pelo buraco da fechadura

que surge a luz prateada.

 

Enterro-te vivo.

Esquartejo-te no papel.

Ficas fragmentado:

Há virgulas;

Interrogações;

pontos.

Espanta-te!

Ainda te desejo.

Escrevo sempre no pretérito imperfeito.

 

Na cama onde estás,

Não te peço tudo.

Quero aquilo que não dás.

Mas agora estás morto.

Sei-o pois consigo sentir a tua ausência no peito.

Foi um crime perfeito!

Dilui-me no papel branco.

Sou tinta.

Escorro.

Surgem palavras bonitas de ler!

Não morro!

 

Revelo-te.

Surge apenas o que interessa.

Fica o Amor

na folha impressa.

É assim que toco nos teus segredos,

quando toco o teu corpo

com os dedos.

 

Alongo-me na margem.

Beijo-te.

Estendo os braços.

Nesse momento sei

que o Amor não é uma miragem.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A Luz do dia



A paisagem que pinto

entra no meu quarto vazio

através da janela

Que para ti crio.

Fico na margem nua.

Abandonada.

Deslizo nas curvas claras da Palavra.

Talvez deva ir.

Talvez deva ficar.

 

A noite debruça-se para o meu rosto.

A língua (gem) acaricia-o ternamente.

O papel é a minha pele.

Rompe o grito das entranhas.

Florescem dores tamanhas!

São rosas que rasgam as mãos

quando a beleza era palpável.

Perco-me no tempo!

 

Abrem-se as portas.

Nas paredes agitam-se

Os fantasmas que vêm e vão.

Perco o chão.

Agita-se a recordação.

Há palavras não pronunciadas

que ficam presas

nas frases inacabadas.

 

O silêncio das Palavras ecoa nos ouvidos.

Afastam-se os meus passos.

Abandono-me à escuridão.

O corpo desvanece-se.

Lentamente o pensamento para.

 

Abre a janela devagar.

Deixa entrar a Liberdade,

talvez vejas um pássaro passar.

Não me procures no espelho.

Já não tenho a imagem que refleti.

Morri.

 

A luz recolhe-se para o fim do horizonte.

Na minha cama estão os sonhos.

Dorme comigo.

Abraça-me pela cintura.

Sinto-me oca e fria.

Traz-me para a luz do dia:

a Poesia.  

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os Amantes


Antes que o Sol beije o orvalho,

As minhas asas desfazem-se

antes que amanheça.

Deitas-me no poema virgem.

Pode ser que o Amor aconteça!

 

Vieste livre,

Arrastado pelos versos

alinhados na poesia.

Prendi-te para Sempre!

Até um dia!

 

Parece que chove!

Ainda bem!

Abrigo-me nos teus braços.

Se ficar com frio

já sei do que preciso:

Colocar-me debaixo da luz

do teu sorriso!

 

Entrelaçamos os dedos.

Toco nas tuas mãos nuas.

Ambas estão quentes.

Não são as minhas,

 são as tuas.

Dispo a Saudade

que estava à flor da pele.

Deixo-a cair aos pés da cama.

Talvez fique perdida nas tuas mãos.

Talvez a leve, de novo, comigo.

 

Procuras o meu corpo

Com palavras labiais.

Impercetíveis!

Não as sei pronunciar.

Sinto o sangue a pulsar.

Os gritos afloram na pele.

A minha boca fechada,

fica do avesso virada

por ti.

 

Estamos abraçados no nada.

Repousas nas luas do meu peito.

Espalhas estrelas pelo teto e pelo leito

Para festejar a nossa morte.

Foi um crime perfeito!

As palavras estão espalhadas pelo ar.

Fogem de nós!

Partem com o vento.

O poema fica vazio,

inscrito na nossa nudez completa.

Vestimos a Saudade

que surge tarde.

Ficou a repousar à cabeceira.

 

Partimos com as aves,

Pousados em asas cortadas.

Nada nos separa.

Nem mesmo a Liberdade.

Salvam-se assim os Amantes.