quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A Luz do dia



A paisagem que pinto

entra no meu quarto vazio

através da janela

Que para ti crio.

Fico na margem nua.

Abandonada.

Deslizo nas curvas claras da Palavra.

Talvez deva ir.

Talvez deva ficar.

 

A noite debruça-se para o meu rosto.

A língua (gem) acaricia-o ternamente.

O papel é a minha pele.

Rompe o grito das entranhas.

Florescem dores tamanhas!

São rosas que rasgam as mãos

quando a beleza era palpável.

Perco-me no tempo!

 

Abrem-se as portas.

Nas paredes agitam-se

Os fantasmas que vêm e vão.

Perco o chão.

Agita-se a recordação.

Há palavras não pronunciadas

que ficam presas

nas frases inacabadas.

 

O silêncio das Palavras ecoa nos ouvidos.

Afastam-se os meus passos.

Abandono-me à escuridão.

O corpo desvanece-se.

Lentamente o pensamento para.

 

Abre a janela devagar.

Deixa entrar a Liberdade,

talvez vejas um pássaro passar.

Não me procures no espelho.

Já não tenho a imagem que refleti.

Morri.

 

A luz recolhe-se para o fim do horizonte.

Na minha cama estão os sonhos.

Dorme comigo.

Abraça-me pela cintura.

Sinto-me oca e fria.

Traz-me para a luz do dia:

a Poesia.  

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