quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Melodia do Silêncio


 

 
 
És um espelho de água

onde gosto de me banhar.

Estendo a mão.

Não encontro bolas de sabão.

Apenas bolas de ar.

 

A água escorre pelos cantos da tua boca.

Docemente a levo aos lábios.

Tudo inunda dentro de Nós.

Tornamo-nos canais comunicantes

apenas com duas variantes:

Eu e Tu.

 

Desfaço o teu sorriso

e caem estrelas.

Admiro-as.

Gosto de vê-las.

Olho para os sinais do céu.

Quando me olhas,

és meu.

 

O vento acaricia as colinas.

Dá-se a desfolhada.

Cai a folha e deixas algo de ti.

Não sei, nesse momento,

se fico ou se parti.

Ficamos ligados num abraço forte.

Perco o rumo.

Perdes o norte.

 

Erro nas curvas do teu olhar,

Indefesa.

Há explosões no meu corpo,

não sei se vivo ou se morto.

Vou pousar na Lua

Cheia de nada palpável.

Afinal, estou nua.

 

A luz rompe da Alma

quando alguém diz que ama.

São trilhos que o Amor deixa traçados

para os pedidos e para os achados.

Dessa viagem guardo as melodias do Silêncio.

sábado, 19 de abril de 2014

Mata-me


Foto: Balabanov
 

Inclino a cabeça para o lado.

Observo as coisas imóveis.

Baixo o olhar para o chão.

Agarro a corrente que trago na mão

e arrasto, lentamente, o meu coração.

 

Não queiras saber de mim.

Ninguém se estende na almofada

sabendo que vai ficar

agarrado a Nada.

Sonha.

 

Não olhes para a janela.

Olha para as ruas e vielas.

Corre atrás das pessoas

que levam o sonho com elas.

Rasga o teu corpo

com gestos literais.

Desfaz as curvas dos corpos celestiais.

 

Não me procures.

Sente a aragem.

Não abras caminho à brisa.

Quando simplesmente suspirar,

sentirás o meu puro refrescar.

 


Não me toques.

Enlaça-te.

O nevoeiro cobre o corpo (im)perfeito em si.

Ondula.

Respira.

Pode ser ideal, ou não, para ti.

A ternura não vês.

Encosta o ouvido à nudez.

 

Não te despeças.

Destrói o vulcão em chamas.

Agarra a (minha) Vida com as mãos.

Inclina-te.

Simplesmente Mata (-me) para viver.

sábado, 12 de abril de 2014

A Bailarina



 
Foto: Hemail
 
 

Sou a bailarina da caixa de música.

Mantenho uma postura direita.

Há alguém que me espreita.

Ando nas pontas dos dedos.

Está o chão escorregadio.

Não quero cair.

Estico as mãos acima da minha cabeça.

Acima da razão.

Mostro assim o meu peito,

o meu coração.

 

Escorre a fonte de Vida.

Fecho os olhos.

Algo me envolve e me diz

que devo escrever o que a inspiração me diz.

O Calor emerge da raiz.

Limpo as impurezas,

palavras espumadas que se colam a mim.

Cubro-me de certezas.

A cascata cai sobre mim.

 

A música começa a tocar.

Começo a rodopiar.

Tudo se inicia com a clave que abre a porta para o Sol.

Não há ré(us) nesta musica que ouço.

Sou livre, contudo.

Não há Dó.

Apenas Lá.

Lá, aqui existe Sol que Fá(z) de Mi(m) e de nós, Si(e) quiserem,

pautas de silêncios gritados.

Fica tudo sustenido na respiração.

Somos (semi) mínimos no horizonte pautado.

Há um ritmo compassado.

Há um desassossego aprisionado.

Abro a colcheia mostrando o que o corpo diz ser.

 
 

A espuma escorre então pelo corpo.

Vai pelo cano. Puro engano!

Nada se perde.

Tudo fica à flor da pele pois a poesia é a essência

da nossa existência

Mortal.

 

Regresso ao mundo.

A música parou de tocar.

O espetáculo termina.

A bailarina para de dançar.

Tudo irá recomeçar,

quando a caneta o papel voltar a tocar.

domingo, 6 de abril de 2014

Apaga a luz

 
Foto: Olga Boris
 
 
 
Apaga a luz.

Caminho sobre o abismo.

Viro-me para o lado de dentro.

Ocorre um sismo.

O meu corpo não sente.

Desligo o coração.

Torno-me malabarista de palavras

que atiro ao ar.

Apanhas?

Não! Sou mais do que isso.

 

Apaga a luz.

Desconheço os silêncios,

quando navegas no meu rio de letras

soltas nos meus cabelos despenteados.

Olho para a raiz.

Vejo-a natural.

Única.

Verdadeira.

Estico até ao limite da sua existência.

No fim corto significados.

A ausência fica marcada

mas de nada serve.

Encaracolo o que me resta.

Cubro de cor o (in) visível.

Fica bem? Sou mais do que isso.

 

Apaga a luz.

Construo castelos de papel

com o que não te consigo dizer.

São pedaços de nada.

São partes de nada.

Palavras de tinta permanente

que ficam cimentadas no coração de quem sente.

Gostas da obra?

Sou mais do que isso.

 

Apaga a luz.

Atiro à queima-roupa.

Dizem que sou louca.

Assassina de profissão.

Atiro de forma certeira

com armas letais que vão directamente ao coração.

Morreste? Não!

 

Chega!

Não tentes mais.

Na poesia podemos ser tudo

de uma forma alinhada

sem nunca sabermos realmente aquilo que somos.