sábado, 28 de junho de 2014

Amor permanente


Foto: Stanmarek
 
 
Nasces à noite,

quando me deslumbras

com sombras

caiadas na tela branca

da minha insónia.

 

Traço um esboço a carvão.

A preto e branco

delineio o que tolda

a Razão.

 

Vejo nascer

um sonho meu

na minha cabeça assombrada.

Vejo-te nitidamente.

 

Desenho o teu corpo.

Os meus dedos acariciam-te

e ficas em contraluz.

Fica estranho

quando apago as imperfeições.

 

Misturo as tintas

nada arbitrárias.

Estão na base.

São primárias.

Quentes.

Frias.

Surgem secundárias

quando quero algo novo.

 

Sinto-te vagamente

no correr da tinta

que cai nos meus dedos

e me acaricia a pele.

 

Sinto-te perto.

Sinto o teu cheiro.

Sei que me pertences.

Sei quem és.

Sei-te de cor.

 

Quando as tuas mãos ganham vida

e me percorrem,

para que nada se apague de mim,

tornamos o nosso Amor,

(de tinta),

permanente.

sábado, 21 de junho de 2014

A Fotografia



Foto: António Louro & Adrian KW
 
 
Surjo a teus olhos

focada

Em linhas horizontais e verticais, talvez,

em pose apaixonada

por ti.

 

Define os contornos

para saberes que sou sombra,

quando estou iluminada

com a tua luz.

 

Fixa-me no espasmo

de um orgasmo.

É o teu flash

que me torna viva e visível.

 

Foca a objetiva.

Vê quando me perco

no teu olhar

e me torno negativo(a)

nas tuas mãos.

 

Imortaliza-me

na camara escura

onde me mergulhas

e me tornas nitidamente tua.

 

Não me dês rosto.

Dá-me alma.

Reescreve na pelicula

a minha imagem morta.

Escreve-me com a tua caligrafia

com direitos de autor

que me amas

e que sou o teu amor.  

sábado, 14 de junho de 2014

À flor da pele

 
Foto: Graça Loureiro
 
 
Olhei para o espelho

e despenteei o cabelo.

Coloquei a língua de fora.

Não vi palavras.

Não podia escrever.

Afinal o que estava a acontecer?

 

Dizem que a poesia

corre nas veias.

Fui explorar essa ideia.

Elas não estavam salientes.

Sempre tive problemas na análise.

Precisava de beber

um cálice

de (ab)sinto.

Talvez descobrisse

palavras no fundo do copo.

 

Suspirei.

Nada!

Eu sei

que onde a luz termina,

exilo-me.

Eu sei onde me deito.

Sei por que não durmo.

Não tenho sonhos.

Não existe rumo.

 

No meio do caos,

abriu-se a porta.

Apanhei um susto.

Estava sentada meia torta.

Olhei a folha rasurada

onde escrevi algo a vermelho:

 

Trago o medo

no meu peito.

Escrevo para que não padeça.

Aguardo que algo aconteça.

Espero que o encanto

que me enlaça por dentro,

solte por fora

o grito que ecoa

dentro de mim.

 

Hoje fica algo em tons de sangue.

Tudo o que brotou

dos meus dedos,

quando tudo ficou estanque.

Deixou à vista

linhas pulsantes

que percorrem o poema

que ficou à flor da pele. 

sábado, 7 de junho de 2014

A Rosa

 
 
Posso despir-me, é certo.

Posso lancetar a minha pele.

Rasgá-la.

Deixar a cicatriz.

Fechar os olhos.

Esquecer que o fiz.

 

Hoje não!

 

Não há ruído

na melodia que trago

nos dedos.

 

Não há rasgos

na seda cristalina

que despe o meu corpo.

 

Há um arrepio

na minha mente.

São as tuas mãos

que me tocam

indiscretamente.

 

Traço-me com linhas silenciosas.

Banho-me no rio

que invade o jardim.

Sei que nesse momento

olhas para mim.

 

Estendo-te as folhas que escrevi

Pediste-me e, com amor, me despi.

Tudo fica morto

na raiz do meu mundo.

Entranças a beleza da flor

que beijas com fervor

para conheceres o centro do seu desejo.

 

Revolves a minha alma.

Libertas um desejo enraizado

no perfume que no meu corpo

trago guardado.

 

Acendes a magia dos meus olhos.

Tocas (me) para mim.

Algo fica parado

num mundo encantado,

criado para nós.

 

Apago a minha presença.

Floresço em Palavras

como antes

numa essência de amantes.

 

Hoje sim!

Ofereço-te a rosa

que tenho escondida

no meu vestido.