sábado, 14 de junho de 2014

À flor da pele

 
Foto: Graça Loureiro
 
 
Olhei para o espelho

e despenteei o cabelo.

Coloquei a língua de fora.

Não vi palavras.

Não podia escrever.

Afinal o que estava a acontecer?

 

Dizem que a poesia

corre nas veias.

Fui explorar essa ideia.

Elas não estavam salientes.

Sempre tive problemas na análise.

Precisava de beber

um cálice

de (ab)sinto.

Talvez descobrisse

palavras no fundo do copo.

 

Suspirei.

Nada!

Eu sei

que onde a luz termina,

exilo-me.

Eu sei onde me deito.

Sei por que não durmo.

Não tenho sonhos.

Não existe rumo.

 

No meio do caos,

abriu-se a porta.

Apanhei um susto.

Estava sentada meia torta.

Olhei a folha rasurada

onde escrevi algo a vermelho:

 

Trago o medo

no meu peito.

Escrevo para que não padeça.

Aguardo que algo aconteça.

Espero que o encanto

que me enlaça por dentro,

solte por fora

o grito que ecoa

dentro de mim.

 

Hoje fica algo em tons de sangue.

Tudo o que brotou

dos meus dedos,

quando tudo ficou estanque.

Deixou à vista

linhas pulsantes

que percorrem o poema

que ficou à flor da pele. 

2 comentários:

  1. Boa noite

    Poema lindo de se ler.

    Beijo, bom fim de semana.

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Assim acontece, quando se sente a consciência de que o tempo nos ultrapassa...e nos deixa sem tempo-com tempo, que nem sabemos para que nos serve...

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