sábado, 8 de agosto de 2015

Hoje


 
 
Foto: Ario Wibisono
 
 
 
Hoje o corpo beija o chão

quando me deixas

na cova do leito.

 

Roçaste na minha boca

para alimentar a prece.

Tornaste-te devoto.

 

Hoje prendeste-me

na tua voz.

Fiquei atrás das grades.

 

Arrefeci o corpo

para ficar vazia de emoções.

Nada pode fazer borboletar

as entranhas.

 

Arranquei o coração.

Coloquei-o para reciclar.

As loucuras são para reinventar.

 

Lancetei a pele

para ver o reverso.

Conheci a dor de cor

mas não irei recitá-la.

 

Crema-me.

Faz arder o desejo.

Ilumina-me.

 

Deixaste pétalas insipidas

para disfarçar o cheiro

que se mistura

com a tua inexistência

viva.

 

Abandonei o meu corpo.

Nada me prende a ti.

 

Enterrei-me

a teu lado.

Acordei para ti

na terra que respiro

contigo.

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