domingo, 10 de janeiro de 2016

A casa


 
 
Foto: Alexin
 
Anda, vamos construir uma casa!

O teu corpo de algodão

é o alicerce.

Um lugar (in)comum.

 

Anda, vamos construir uma casa!

neste  chão em terra

lavrada pelos pés.

 

Anda, vamos construir uma casa

com ventos nos telhados

e janelas de chuva.

 

Anda, vamos construir uma casa

com portas de abraços.

Não há fechaduras.

Tudo se abre sem chave.

 

Anda, vamos construir uma casa!

Entre a cabeça e a boca

mastigo o cimento

Quero paredes

enchidas de vozes,

ecos teus

e meus.

 
Anda, vamos construir uma casa

sem métrica nem medida.

Que seja infinita

mas contida

nas suas raízes mais profundas.

 

Anda, vamos construir uma casa!

Tudo preto no branco.

Tudo branco no preto.

Na neutralidade seremos nós:

únicos.

 

Anda, vamos construir uma casa

decorada com os silêncios vazios

que se abrem em colcheias.

 

Anda, vamos construir uma casa!

Vamos aquecer-nos

no fogo dos olhos.

 

Anda, vamos construir uma casa!

Tenho palavras presas no cabelo.

Precisamos de algo novo

para habitar.

4 comentários:

  1. "Construir a casa neste chão em pedra lavrada pelos pés"...
    Belíssimo!
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. "Casa em que caibas, terra (poesia) quanta vejas"...

    beijo

    ResponderEliminar
  3. Esta é a verdadeira casa e poucos têm a capacidade
    de construir e deixar que a vida habite,
    a vida à flor da pele!...
    Belíssimo!!
    Bravo, Ana!
    Bjs.

    ResponderEliminar
  4. Só te digo, que a tua casa... é maravilhosa!!!!
    Adorei por demais!
    Beijinhos
    Ana

    ResponderEliminar