sábado, 12 de novembro de 2016

Não me sinto cá




Não há claridade

que apague o obscuro

das pessoas

e das coisas.



Dizes, então,

que trago a luz do desejo

no olhar.

Por isso,

não me sinto cá.



E eu digo-te

que o verão

fica à esquerda do meu peito.

Leva-me, então,

por essa estação.



Não me sinto cá.



Há um solo dominado

por cardos,

roupa por todos os lados,

que é preciso lavrar.

E é nessa jornada,

quando o sol está a pique,

que me sinto

corar.



Não me sinto cá.



O solo tem no reverso

o passado

com cicatrizes e

segredos.



Entre a saliva

e o toque,

agarra-me pelos ombros

e murmura-me,

longe dos olhares alheios,

o que é indiscreto.



Não me sinto cá.



A certeza abandona-me.

Os teus dedos esgueiram-se

para lados incertos.

Enquanto a incerteza dura,

ardo na fogueira

e crepito como uma castanha.



Magusto-me.

Já não me sinto cá.

2 comentários:

  1. Muito belo! Talvez alguém lhe peço como o poeta: "diz-me a que distância deixaste o coração"...
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  2. Para que sintas,
    Cá, lá, aqui.
    No abrigo dum olhar.
    A saliva que te toca;
    Os dedos que te lavram;
    Para quê murmurar?
    Os gemidos,
    Os gritos,
    Um magusto de paixões
    Sem nunca querer acordar.


    Com um ramo de :-) (sorrisos)

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