sábado, 24 de dezembro de 2016

O fio e a navalha


Foto: Axel L.


Vejo-me outra

longe de mim.

Faço um rabo de cavalo

para que o corpo

fique descoberto.



Abro as portas

da residência

sem qualquer

resistência.



Quando menos me tocas,

mais me tens.



Esgueiro-me para a esquina.

Em volta da cintura

Lavra o incêndio

que crepita nos dedos.



Afogo a tua sede

depois de me encharcares.

Regresso casta.



A boca obedce

e o sabor se morde.



Há a fusão:

carne e calor.

Arromba-me para que nada reste.



Suspiro.

Imploro para que

sejas a navalha

e eu o fio.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Feliz Natal



A todos vós, leitores, que seguis os meus espaços, e público em geral, desejo um FELIZ NATAL!
Agradeço o vosso carinho e atenção. Sem vocês nada disto seria possível. 
  Uma boa inspiração para este Natal é, sem dúvida estar na companhia dos que mais amamos. Venham daí os doces e aconcheguem o vosso coração com um pouco de poesia. Vamos ter frio este Natal. Agasalhem-se com alegria, boa disposição e uma mantinha .
            
           Um abraço, Ana

domingo, 18 de dezembro de 2016

O que faço contigo?



No fundo, bem lá no fundo,

sei que não sinto.

Dou o corpo coberto de gesto

e não é nada mais do que absinto.



No fundo, bem lá no fundo,

dou a mão bem esticada,

mas podia dar as duas,

para agarrar a tua imaginação.

Não me segredes desejos.

Tudo o que sou é ilusão.



No fundo, bem lá no fundo,

Sou uma música solta

que tu ouves,

mesmo não sabendo onde estás.

Fica o sorriso na mesa detrás.



No fundo, bem lá no fundo,

sou mal comportada

e quero namorar ao teu ouvido.

Mas sei que és surdo

e não ouves o que digo.



No fundo, bem lá no fundo,

deixo-te os silêncios escritos sem voz,

fora do normal.

Fecha a janela virtual.

Existe uma mulher real.



No fundo, bem lá no fundo,

aguardo que me digas,

o que faço contigo.

Eu já não consigo.




domingo, 11 de dezembro de 2016

O crime




Os meus sentidos

dizem-me o que é proibido.

Perder-me sem pudor.

Só de pensar nisso

já sinto calor.



Procuro a resposta

no reverso das tuas costas.



Vou dar um passo

para o abismo.

Morder como quem beija

para ser alguém que seja

capaz de provocar os gritos

debaixo da pele.



Entrego o coração

para que o atires para longe.



Morrerei na medida

em que te desejo.

Um desejo com raízes de vento.



O problema

é que eu ainda não sei morrer.

E tu, és capaz de

 matar-me (de desejo)?



Será o crime perfeito.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Brutal





Vês a brutalidade da sensualidade

que carrego nas mãos.

Armas de erotismo que aponto

Para ti.



Sento-me na cadeira

E não há maneira

De não me sentir submissa.



Anseio ouvir-te.

Estou com a pele

Viva e quente.

Seguras nas minhas mãos

para prender o meu corpo inocente.



A tua voz quente

vibra no meu ouvido.



Pensas-me indefesa.



Queres levar-me à lua.

Para isso preciso de te pedir

que me possuas.



A viagem é longa.

É preciso ir devagar

para chegar bem e depressa.



Viajas fora do meu corpo.

Traças trajectórias cadentes

de beijos incandescentes.



Dominas todas as ruas.



Os teus dedos na

garganta

apertam-me as palavras.



Esticas a corda.

Puxas-me para ti.

O meu tronco eleva-se.



Deixas-me riscar-te

as costas.

Sem erros.



Ficas entre as minhas coxas.

Fecho os olhos em gemidos.

Preciso do sabor da terra.

Preciso do perfume doce

que paira no ar

quando somos cremados

na fogueira dos sentidos.



Isso sim:

é brutal!