domingo, 29 de janeiro de 2017

Anjo Fumegante




As tuas mãos dão asas

à roupa que

pousa no chão.



Beija-me a boca

como se cortasses os pulsos.

Devora-me o cabelo.



Esfrega-te no muro

areado de cimento

e deixa a tua carne.



Extinguir-te.

Tornar-me invisível

ao tempo.



Forças as entranhas

escancaradas.

O leite que te sobe

à cabeça,

pulsará dentro de mim.



Há camas sem sono.

A terra agarra-te.



Escondo os seios

no teu corpo.

Já não há lençóis:

apenas a ternura amarrotada

que te passa

a ferro pelos  dedos.



Perfil.

Silhueta.

Anjo fumegante.

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